Texto: Gustavo do Carmo
Fotos: Divulgação


Mais uma marca chinesa está chegando ao Brasil. Aliás, mais uma, não. O objetivo da JAC Motors é se estabelecer no mercado brasileiro, vender 35 mil unidades até o final do ano e superar as conterrâneas em qualidade e confiabilidade.

Representada pelo empresário Sérgio Habib, responsável pela vinda da Citroën ao país na década de 90, a JAC investiu mais de R$ 380 milhões e começa as suas atividades com o hatch compacto J3, que também tem uma versão sedã, com o sobrenome de Turin. Ainda neste semestre chegam o sedã médio J5 e a minivan J6.

Com 3,97m de comprimento, 1,47m de altura, 1,65m de largura e 2,40m de distância entre-eixos - porte de um Ford Fiesta, de 3,94m - o J3 tem um desenho arredondado e atraente, criado na Itália. Não é uma cópia descarada de nenhum concorrente, mas guarda leves semelhanças com eles. Faróis e grade se parecem com um Hyundai, a lateral lembra rapidamente o Gol e a traseira pode ser comparada ao Renault Sandero ou ao primeiro Fiat Palio.

Melhorar a qualidade e ter maturidade a JAC conseguiu. De olho no preconceito do mercado contra os carros vindos da China, Habib encomendou pesquisas de mercado e exigiu diversas modificações no lote destinado a vir para cá. Materiais de revestimento, isolamento acústico e vedação foram trocados, a suspensão endurecida e o acelerador eletrônico ajustado. Tudo para acabar com a fama do mal acabamento do país comunista emergente.

Já no custo-benefício, a JAC fez como as patrícias: recheou o J3 com muitos equipamentos de série que são opcionais nos similares nacionais, como ar condicionado, direção hidráulica, trio elétrico, som com MP3 e USB, alarme, destravamento das portas por controle remoto, freios ABS com EBD, airbag duplo, sensor de estacionamento traseiro, rodas de liga-leve de 15 polegadas, faróis com regulagem de altura do facho, faróis auxiliares de neblina e volante regulável em altura. E está cobrando R$ 37.900 pelo hatch e R$ 39.900 pelo sedã.

O preço é menor que os concorrentes nacionais, como o Sandero, o Fiesta, o Fox e o Agile, que custam na faixa de 40 mil reais com os equipamentos opcionais equiparados ao J3. Mas a JAC já paga pela sua superioridade sobre as conterrâneas, pois o hatch é mais caro que o Chery Face (R$ 32.990) e o Lifan 320 (o Mini Cooper genérico, que sai por R$ 29.990)

Ficou devendo, porém, o ajuste de altura do cinto de segurança dianteiro e dos bancos dianteiros, além do cinto de segurança de três pontos e apoio de cabeça para o passageiro central de trás. Deixou como opcionais os bancos em couro (na verdade, acessório de concessionária por mil reais) e a pintura metálica (990 reais).

O interior mostra que o J3 já está adaptado ao Brasil: aparentemente simples, com plásticos duros e sem tecido nas portas, mas com materiais bem montados e muitos cromados. No quadro de instrumentos de iluminação azul, o conta-giros fica dentro do velocímetro, o que confunde a leitura. O marcador de combustível tem indicação invertida: tanque cheio na esquerda. Também há confusão no comando do retrovisor elétrico, no qual a palavra UP (cima) está na parte de baixo.

O espaço interno é bom, apesar do passageiro de 1,80m poder raspar a cabeça. O acesso ao banco traseiro é um pouco difícil por causa da caixa da roda e da altura do assento. O porta-malas é o destaque do J3 com 350 litros, maior até que o do Sandero.

O motor de 1.332 cm³ foi desenvolvido pela austríaca AVL. Tem comando variável de abertura das válvulas (sistema VVT), que são dezesseis ao todo, sendo quatro por cilindro e rende 108 cavalos, mais potente que os concorrentes 1.6, como o Sandero e 1.4, como o Chevrolet Agile (102/97 cv). Na prática ele é considerado 1.3, mas o marketing o reclassificou como 1.4. A JAC anuncia uma velocidade máxima de 186 km/h e aceleração de 0 a 100 km/h em 11,7 segundos, mas a revista Quatro Rodas obteve 13,4 segundos, o deixando atrás do VW Fox e do Fiesta. No mercado, o J3 pode levar desvantagem por não poder ser abastecido também com álcool. Mas se sobressai no consumo com gasolina: 11 km/l na cidade e 13,8 km/l na estrada, também segundo a Quatro Rodas. O motor flex deve chegar no ano que vem. Apesar do isolamento acústico ajustado e dos freios ABS, o J3 foi mediano nas provas de nível de ruído e frenagem.



Fundamental para a implantação de qualquer marca no mercado, o marketing foi bastante usado para promover a JAC, que pretende fabricar seus carros no Brasil em dois anos. O representante decretou seis anos de garantia sem limite de quilometragem para os seus carros. Também foram prometidos a assistência 24 horas gratuita por dois anos (em parceria com a seguradora Porto Seguro) e o menor custo de manutenção do segmento.

Inicialmente serão 50 concessionárias distribuídas pelo Brasil, sendo cinco aqui no estado do Rio de Janeiro (Barra da Tijuca, Botafogo, Campinho, Tijuca e em Niterói). Todas foram inauguradas simultaneamente nesta sexta-feira (18 de março). Como porta-voz foi contratado o Faustão. Seria um reforço literalmente de peso se o apresentador não tivesse emagrecido, mas pela sua popularidade a expressão ainda faz sentido.


Sobre a JAC Motors

JAC é sigla da Jianghuai Automobile Co, estatal chinesa de capital misto, que tem 25% de ações na bolsa de valores de Shenzen. Foi fundada em 1969 como fabricante de caminhões e em 2007 passou a fabricar automóveis de passeio em Hefei. A empresa também tem um centro de design em Turim na Itália e de design de interiores em Tóquio, no Japão.

Sobre Sérgio Habib

Sérgio Habib foi representante da Citroën no Brasil e presidente da filial brasileira da marca francesa, que chegou em 1991 com a empresa IVXM. Executivo de ideias ousadas e polêmicas, desfez sociedade com o estilista Ocimar Versolato e uma vez falou mal do Rio de Janeiro, justamente onde a Citroën construiu sua fábrica em parceria com a Peugeot. Dono de 83 revendas de várias marcas, Habib apostou na JAC Motors e, através de sua nova empresa SHC, decidiu trazer seus carros para o Brasil. Tornou-se, assim, presidente da JAC Motors do Brasil e responsável pelo marketing, comercialização, assistência técnica, serviços pós-venda e distribuição de peças originais da marca no país.

Avaliação do J3

Estilo ***
Acabamento ***
Espaço Interno ***
Porta-malas *****
Motor ****
Desempenho ***
Consumo ****
Segurança ***
Conforto ***
Equipamentos de Série ****
Preço ****

FICHA TÉCNICA - JAC J3 HATCH ****

Motor: Quatro cilindros, transversal, gasolina, 1.332 cm³, 16 válvulas
Potência: 108 cv
Aceleração de 0 a 100 km/h: 11,7 segundos
Velocidade máxima: 186
Consumo Médio: 12,4 km/litro (Revista Quatro Rodas)
Comprimento/largura/altura/entre-eixos: 3,97/1,65/1,47/2,40 m
Porta-malas: 350 litros
Tanque: 48 litros
Preços: R$ 37.900